ASSOCIAÇAO DO CAVALO PERSA MARCHADOR BRASILEIRO

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SÉRIE: O FASCINANTE MUNDO DOS CAVALOS PINTADOS

PARTE VI - SOULON TIGER REGISTRY

  • Em 1992, no estado do Arkansas, EUA, um casal de criadores - Mark Varley, nascido na Nova Zelândia, e Victoria Varley, nascida na África do Sul, iniciaram um programa de registro de cavalos pintados com a denominação Tigre - Tiger Horse Registry. Posteriormente, mudaram para o Estado de New Mexico, onde moram na fazenda Santa Fé, funcionando na sede da fazenda o escritório do programa de registro. Além da pelagem pintada, outros caracteres raciais relevantes para o registro são a marcha picada (chamada de glidder, ou indian shuffle) e o perfil de chanfro convexilineo (de preferência suavemente), o qual remete aos cavalos espanhóis. Um garanhão precisa produzir mínimo de 5 filhos pintados e marchadores, a égua um mínimo de 3 filhos, para se qualificarem à inscrição no Royal Stud Book.


    Conforme relatado anteriormente nesta série, na parte V dos Tiger Horses, em 1994 foi fundada a Tiger Horse Association. Porém, devido aos cruzamentos aceitos com várias raças, Mark e Victoria decidiram por continuarem com o serviço independente do registro genealógico Tigre - Tiger Horse Registry. Mas houve uma mudança parcial de rumo. A associação moveu ação na justiça requerendo o direito exclusivo do registro Tiger Horse. Durante anos se prolongou a disputa judicial. Mark e Victoria perderam, mas conseguiram implantar um outro serviço de registro na mesma linha e mais abrangente, o qual denominaram de Soulon Tiger Horse Registry. O registro foi dividido em duas categorias: Royalty, dos cavalos de origem na Espanha, dos “caballos Tigre”, e Heavenly, dos cavalos de origem na China, os Soulon Horses.

    Assim começa a história dos Soulon Horses, os cavalos chineses pintados, e de como foi possível, em território americano, resgatar uma raça que estava extinta há mais de 2 mil anos: 


    A história começa na China, era de 618 - 970 AC, da Dinastia T’ang , o Imperador Han deu uma incumbência muito difícil para um emissário: uma longa viagem, de anos, pelos desertos, para trazer quantos cavalos conseguisse capturar do rebanho selvagem na região onde viviam, nos vales das montanhas Ferghana, tambem conhecidas como “Heavenly Mountains”, origem do nome como eram conhecidos os cavalos que la habitavam, de nome oficial “Ferghana Horses”. A origem daqueles cavalos era nos cavalos Nisean, da próxima região que era denominada de Nisaia, na antiga Pérsia, atualmente região norte do Iran.


    A fama dos “Heavenly Horses” como cavalos ideais para as guerras despertou no Imperador Han a ideia de trazê-los para fortalecer o exército nas batalhas contra os exércitos da Mongólia, que tinham exímia cavalaria. O Imperador teve conhecimento da fama dos “Heavenly Horses” de atacarem os cavalos inimigos ate mesmo antes do ataque iniciado pelos próprios cavaleiros. Uma lenda é de que pessoas viram os cavalos suando sangue e quanto mais suavam sangue, mais aumentava a valentia, a coragem de atacar os cavalos inimigos. Na verdade, foi descoberto que aqueles cavalos tinham um parasita de pele, que causavam sangramento.


    Muitos anos depois o emissário retornou com apenas 12 cavalos, centenas morreram na árdua viagem pelos desertos, mortos por predadores e em lutas com inimigos. oO imperador enviou um exército mais numeroso, que retornou com pouco mais de 1000  cavalos e assim foi formada a nova cavalaria do Imperador Han, com cavalos inigualáveis nas guerras, oriundos do vale Ferghana.

     

    Pintura de cavalo pelagem Leoparda montado por guerreiro chinês

 

Séculos depois, no período pós-guerra, foram feitos cruzamentos com cavalos de tração, para uso em serviços agrícolas, e surgiu a raça denominada na China de Soulon, O biotipo remete aos cavalos de tração, sendo tronco mais robusto, membros mais grossos, em relação aos cavalos Tiger e Spanish Jennets. Alguns marcham, outros não. Mas a seleção na marcha vem sendo priorizada no Serviço de Registro Genealógico da raça Solon nos Estados Unidos.


Uma outra prova da coragem daqueles cavalos de instinto guerreiro, dos vales entre as montanhas Ferghana, está em pinturas estampando o uso em caçadas aos tigres siberianos. Lamentavelmente, aquelas duas riquezas da natureza, os “heavenly Horses” e os tigres siberianos, entraram em extinção. Os tigres pelo abuso das caçadas e os cavalos muito pelo hábito do consumo da carne. Com o passar do tempo aqueles cavalos eram conhecidos por diversos nomes, além do original Ferhana Horses -  Heavenly horses – “Horses of the air”, “Blood Sweating Horses” , “Magical Horses”



Pintura de cavalo Ferghana lutando com tigre siberiano


Égua Soulon, observar o tronco robusto, biotipo tração leve

 

O milagre, podemos assim chamar, do resgate da genética Soulon em território americano neste século XXI foi possível porque quando as tribos indígenas nativas perderam as terras, também perderam grande parte dos cavalos, que foram soltos e, gradativamente, retornaram ao estado selvagem, da vida em manadas. Paralelamente, no final das guerras muitos cavalos dos exércitos também foram soltos e tinham, predominantemente, sangues P.S.I. e de raças de tração. Em cruzamentos com os cavalos dos índios foi reconstituída a genética Soulon, mais de 2 mil anos após o surgimento na China.


Anteriormente, os soldados americanos já haviam descartado centenas, milhares, de cavalos pintados e marchadores, porque não queriam a pelagem pintada e o andamento marchado. Cavalos marchadores em outras pelagens também foram descartados, soltos e criados em manadas selvagens. Tribos de índios capturavam e domavam. Mas e a genética dos “Heavenly Horses”, como era possível estar nos cavalos em território americano naqueles tempos das guerras com os índios? Como já foi relatado anteriormente na parte V desta série, os cavalos da China foram levados para a Europa por comerciantes. Na Espanha influenciaram os cavalos chamados de “Caballos El Tigre”, e estes fazem parte do grupo de cavalos chamados genericamente de “Spanish Jennets”, uma nomenclatura errada, como será explicado na continuidade desta série, e que nunca existiu na Espanha uma raça com este nome. Os cavalos introduzidos no continente americano pelos conquistadores levaram a genética dos “Heavenly Horses”, misturada com outras genéticas, algumas de andamento marchado, outras de andamento trotada, porque os “Spanish Jennets” não eram todos marchadores.


Ja foi escrito por geneticistas que “são milhares de anos para um banco genético ser totalmente extinto, ou mesmo mudar”. O relógio do tempo voltou a milhares de anos, nos tempos da China antiga. Mark e Victoria, os fundadores do Soulon Tiger Registry, estão recriando o cavalo Soulon nos Estados Unidos. O Registro foi dividido em duas categorias:
- Heavenly Type , dos cavalos que tem o biotipo Soulon, e recebem o “Soulon Seal of Approval”
- Royalty Type, dos cavalos que tem o biotipo do cavalo Tigre. O nome Royalty, porque na Espanha os cavalos pintados eram da preferência de uso pelos nobres, devido à beleza da pelagem pintada e o conforto proporcionado pelo andamento marchado.


Mark e Victoria estão aposentados, continuando cuidando do Soulon Tiger Registry e orientando a filha para ser a fiel seguidora desta nobre tarefa de inestimável valor zootécnico.

 

Texto por Lúcio Sérgio de Andrade, 1/06/20

Fonte: pagina em site do Soulon Tiger Registry